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Um Manifesto pela União Antifascista

Originalmente este manifesto foi publicado em espanhol nas redes anticapitalistas.

Vamos esmagar o nazifascismo e viva a anarquia!

2013. Manifestação antifascista e anticapitalista na Itália.

2013. Manifestação antifascista e anticapitalista na Itália.

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COMUNICADO CONJUNTO DE ORGANIZAÇÕES POLÍTICAS E SOCIAIS PARA DENUNCIAR A ESCALADA DAS ATIVIDADES FASCISTAS NA UNIÃO EUROPÉIA

Diante da escalada, no último ano, de ações, ameaças e agressões realizadas por grupos nazifascistas europeus e o início do ano novo com mais do mesmo, nós, as pessoas e organizações que assinam abaixo, queremos realizar uma denúncia pública para condenar com toda nossa força esse tipo de ações.

No Reino da Espanha, na Grécia, na Itália, na França, na Hungria e na Romênia, ao longo de 2012 vem se repetindo, advindas de organizações nazifascistas, campanhas de criminalização e culpabilização da comunidade cigana e outras minorias, homossexuais, imigrantes e o movimento operário e popular organizado, passando muitas das ocasiões dos insultos às ameças de morte, agressões físicas, confrontos, incêndios de alojamentos e espaços, etc. Cabe aqui relatar como exemplo, e devido a proximidade, os episódios recentes de Ceares em Gijón, ou os ocorridos ao longo de 2012 em Madrid, Toledo, Salamanca ou Barcelona. Com isso, buscam afastar a atenção das verdadeiras causas do sofrimento do povo trabalhador, recorrendo à violência frente a incapacidade demonstrada pelo capitalismo e seus mecanismos de propaganda para dissimular os interesses a que respondem as medidas antipopulares, promovidas pela União Europeia.

Em um primeiro momento, poderia parecer que se trata de casos isolados e desconexos de pessoas ignorantes que, diante da frustração social gerada pela crise estrutural do capitalismo, buscam à sua volta algum tipo de culpado “próximo”; mas ao analisar a situação com mais cuidado, nos vemos na obrigação de não virar o rosto e esperar que se cansem ou desapareçam, como parece estar fazendo os estados europeus. Nos vemos na obrigação de denunciar e desmascarar estas turbas de fascistoides, organizadas não só localmente, mas, de fato, com autênticas redes europeias de discursividade e replicação que estão sendo protegidas (ou ao menos, inexplicavelmente, pouco perseguidas) pelas instituições que, no entanto, estão dispostas a perseguir quem descumpra as leis para confrontá-los.

Tanto na Eslováquia, em 2011, quanto na Romênia, em 2012-2013, grupos de extrema direita vêm jogando com a fome das mulheres ciganas, para quais ofereciam, diante do desespero de uma situação econômica asfixiante, pequenas somas de dinheiro em troca de suas esterilizações, somado a assédios e ameaças contra aquelas que levantaram a voz para denunciá-los. Na Hungria, a violência contra ciganos, homossexuais e sindicalistas tem inclusive uma estrutura organizada, fundada por Gábor Vona, líder do Jobbik: a “Magyar Garda” (Guarda Húngara), um grupo paramilitar ilegal (fundado em 2007, tornado ilegal pelas autoridades em 2009 e que atualmente segue em pleno funcionamento) que se inspira sem disfarces na estética e ideologia da Cruz Flechada, o partido fascista húngaro da Segunda Guerra Mundial. Não é necessário lembrar que temos na Grécia o seu reflexo mais fiel, encarnado na Aurora Dourada —organização que surge diante do descrédito dos partidos burguês hegemônicos e o avanço de um movimento operário e popular combativo que ameaçava a posição das classes dominantes, que por sua vez não têm dúvida em lançar novamente, como no passado, a besta fascista para amputar as aspirações de uma vida e um futuro digno para o povo trabalhador e as camadas populares através de múltiplos ataques organizados e em nada casuais ou fortuitos, que passam de um país a outro progressivamente.

No mês de janeiro de 2013, temos de condenar duas graves agressões: uma ocorrida na Hungria, em que alguns criminosos nazifascistas assassinaram dois ciganos por serem ciganos, em meio a uma campanha de medo que já ocorre abertamente há meses e que não parece que irá se encerrar por si só; a outra ocorrida na Grécia, onde um grupo de mais de 70 homens armados atacaram um bairro de maioria cigana, cujos habitantes fugiram ao ver o ataque —motivo pelo qual se evitou perdas de vida, mas a turba incendiou seis alojamentos e 4 veículos, sendo que, além disso, se trata de um bairro que há meio ano sofreu um ataque de características similares, com praticamente os mesmos protagonistas. Da mesma forma, dois homens confessaram que assassinaram um imigrante paquistanês em 17 de janeiro em Petrálona (um bairro de Atenas), dentro da operação governamental de “lei e ordem”, denominada “Xenios Zeus”, que encoberta e fomenta a tolerância às atividades criminais de grupos fascistas e racistas. A repressão estatal e os ataques racistas completam-se uns aos outros. E por isso devemos denunciar de maneira massiva e isolar a atividade dos fascistas nos bairros, cidades e povos de todos os estados da União Europeia.

As pessoas e organizações que decidem olhar para o outro lado abrem espaço ao nazifascismo: ele é um monstro que finge que dorme enquanto tenta tomar posições passando desapercebido. Conhecemos suas intenções e seus referenciais, e por isso fazemos um chamado ao conjunto de forças políticas e sociais, solidárias e culturais para poder fazer uma frente comum que nos permita colocar lhes um freio, já que, citando “Mil e Novecentos” de Bertolucci, “Os fascistas não são como os cogumelos, que nascem do dia para noite. Não. Foram os patrões que semearam os fascistas, os quiseram, os pagaram. E com os fascistas, os patrões ganharam cada vez mais, até não saber mais onde meter o dinheiro. E assim inventaram a guerra, e nos mandaram à África, à Rússia, à Grécia, à Albânia, à Espanha… Mas sempre nós que pagamos. Quem paga? O proletariado, os campesinos, os operários, os pobres”

Assinam:
Partido Comunista dos Povos da Espanha [Partido Comunista de los Pueblos de España], Associação Cigana UNGA [Asociación Gitana UNGA], Coletivo de Jovens Comunistas [Colectivos de Jóvenes Comunistas], Associação de Imigrantes Residentes em Astúrias [Asociación de Inmigrantes Residentes en Asturias], Uvieu Antifa, Cem por Cem Cubano [Cien por Cien Cubano], Plataforma Feminista de Astúrias, Federação Asturiana Memória e República [Federación Asturiana Memoria Y República], Sociedade Cultural Gijonesa [Sociedad Cultural Gijonesa], CSOA O Tamanco [CSOA La Madreña].